quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um anjo ao meu lado

Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!

Um anjo ao meu lado

Estava voltando para casa, caminhando lentamente, pensando em meus problemas. Não conseguia entender como meus pais brigavam tanto por causa de dinheiro, eu sei que a situação estava difícil, e a mensalidade da minha escola não era nada barata.

Já estava escuro, e eu carregava uma sacola de compras em cada mão. De repente, quando virei a esquina, um homem trombou em mim e puxou uma das sacolas, sacola de comida que comprei com o resto de dinheiro que meus pais tinham.

-Ei! –Reclamei automaticamente.

Ele tirou uma 0.32 e colocou na minha cabeça.

-Ei, o quê? Passa as sacolas e a carteira.

-Não tenho dinheiro, só documentos.

-Mentira! Passa a carteira!

Entreguei as sacolas e a carteira, meu coração afundou de tristeza. Quando ele percebeu que realmente não havia dinheiro, olhou irritado para mim.

-Sua pobre! Se não tem dinheiro, vai ter que pagar com o corpo!

-Não! Deus, por favor, me deixe ir.

Ele jogou as minhas coisas no chão, agarrou o meu cabelo, me jogou contra a parede e começou a abrir o seu zíper.

Meus olhos lacrimejaram, olhei para a Lua, brilhava majestosamente, e seria a única testemunha do horror que me esperava. Silenciosamente, enquanto ele abaixava a minha calça, rezei para a Lua, minha companheira de tantas outras noites, que me protegesse dessa vez também.

Quando esse bruto homem estava quase me violando, a Lua foi encoberta por nuvens e a rua ficou um breu total, todas as luzes se apagaram, e o homem me soltou com um gemido.

Lembro apenas de levantar a minha calça e correr desesperadamente até em casa, e chorar no meu quarto até de madrugada.

No dia seguinte, após contar a história aos meus pais, eles me levaram até a delegacia. Ao chegarmos lá, descobrimos que o assaltante havia sido preso, que uma testemunha chamara a polícia e que o encontraram desmaiado.

Agora, todos os dias eu voltava para casa enquanto ainda estava claro, ou alguém me acompanhava. E meus pais pararam de brigar o tempo todo por causa de dinheiro, eles estavam felizes por nada de muito sério ter acontecido comigo.

Eu estava com medo e traumatizada.

Todos os dias eu encontrava um garoto de uns dezessete anos encostado na parede, na mesma esquina onde fui atacada. Comecei a pensar que ele estava me vigiando, que se vingaria de mim ou que também me atacaria.

Um dia, passei por ali sozinha à noite, uma exceção. Em vez dos passos lentos de outrora, os meus passos eram apressados, urgentes, cautelosos. E a Lua... estava maravilhosa essa noite!

Ao passar pela esquina, com o coração aflito reparei que o garoto admirava a Lua. O seu rosto, já tão conheci por mim, estava angelical, um semblante calmo. Não sei por que naquele momento parei ao seu lado e comentei:

-A Lua é tão linda, não é mesmo?

-A Lua é maravilhosa. –Ele respondeu sorrindo. –Achei que nunca falaria comigo.

-Você estava me esperando? –Perguntei, ficando aflita.

-Não se aflija. Não lhe farei nenhum mal, Rafaela.

-Como sabe o meu nome? –Perguntei espantada.

-Porque te conheço. E a Lua brilhava tão linda como hoje, no dia em que você nasceu.

-Do que você está falando? Quem é você?

Ele sorriu novamente.

-Eu sou o seu anjo da guarda. Fui enviado para cuidar sempre de você.

-Cuidar de mim? Aonde você estava quando fui atacada? –Perguntei irritada.

-Eu estava aqui.

-Mas...

-Eu te salvei.

-Como?

-Eu escureci tudo, eu o apaguei. Fiz tudo aquilo. Eu te dei a oportunidade de fugir, e fui eu quem o denunciou para a polícia.

-Mas por que não o impediu?

-Porque a vida é a vida. Ninguém sabe o futuro, nem você, nem eu. A vida é feita de escolhas, sejam elas boas ou ruins. A escolha dele foi ruim, mas você também fez uma má escolha.

-Qual?

-Você se deixou traumatizar. Nem todos são maus, você pode desconfiar das pessoas, mas não fazer disso uma regra, nem todos querem machucá-la. E se continuar assim, sua vida acabará agora. A sua doce personalidade se transformará em uma personalidade rancorosa e amarga. Você irá parar de aproveitar a vida, de apreciar cada detalhe dela, de ver a beleza das simples coisas que te rodeiam. Você parou para falar comigo hoje, você encarou o seu medo! E mesmo aflita, você sentiu segurança, não sentiu?

-Sim, lá no fundo eu achei que você não me faria mal algum.

-Exatamente. Não se pode viver no medo, Rafaela.

-Obrigada... anjo.

-E por mais que não me veja, estarei sempre aqui com você.

E ele desapareceu. Olhei novamente para a Lua e sorri. De hoje em diante, a minha vida seria completamente diferente!


Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

domingo, 19 de junho de 2011

Um dia de princesa

Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!


Um dia de princesa

“Ele veio me buscar em casa de manhã, imagina o susto que levei ao acordar com uma limousine buzinando na frente da minha casa! Levantei apressada e me arrumei o melhor que pude, saí de casa correndo e encontrei o gato do Marcos Correia! O cantor do momento! O meu ídolo! Na minha porta! Com os braços estendidos para mim!
Eu havia ganhado o concurso! Um dia inteiro com o meu ídolo! Ele me levou para tomar o café da manhã em um hotel cinco estrelas da cidade. Chiquérrimo! Depois, fomos até a casa dele. A casa dele! Toda a banda estava lá, e eles tocaram para mim, só para mim. Acredita que eu quase chorei de alegria? Aproveitei e tirei várias fotos para o meu álbum.
Nós almoçamos em um restaurante lindo, e comi coisas que eu nunca imaginei que comeria, só pratos caríssimos, e ele fumou após o almoço. De tarde, fomos até o estúdio aonde ele gravava os discos, e tirei mais fotos.
À tarde nós passeamos no shopping, fomos ao cinema, nós dividimos a coca-cola e a pipoca que ele comprou. E ele ainda me levou até uma loja, comprou um vestido preto lindíssimo e uma sandália de salto alto. Fomos até uma cabeleireira que deixou o meu cabelo fabuloso e uma maquiagem de noite perfeita! Até já troquei de roupa lá, e depois que eu estava pronta, o Marcos veio me buscar usando uma calça jeans despojada e uma camisa social preta que ficou incrivelmente sexy nele!
Nós jantamos no restaurante mais badalado da cidade, um luxo total! Ele falou bastante sobre os trabalhos dele, sobre a boate aonde íamos, como ele adorava dançar e cantar, como era rico, como encantava as garotas aonde quer que fosse, e como fumava há alguns anos.
Fomos até a tal boate famosa, e nós dançamos muito! Dançamos até o meu cabelo ficar completamente bagunçado, e a minha maquiagem borrar. Fui até o banheiro retocar a maquiagem, e domar novamente o meu cabelo.
Já era de madrugada, o Marcos me acompanhou até a minha casa na limousine, e quando paramos no portão, ele me beijou. E obviamente eu correspondi. Ele sussurrou Boa noite no meu ouvido e eu me derreti no seu sorriso. Entrei em casa, e capotei cansada na minha cama.
Sabe, foi ótimo passar um dia com o Marcos, ele é extremamente lindo e charmoso... mas eu pensei bastante sobre ele, sabe? E cheguei a uma conclusão.
Ele é um bom cantor, mas como pessoa, eu esperava muito mais. Esperava que ele fosse perfeito, afinal ele era o meu ídolo. Mas que também fosse culto e inteligente, não só dinheiro, fama e luxo. Ele não quis ouvir nada sobre mim, passou o dia inteiro falando sobre ele: quem ele conhecia que era famoso, quantos carros importados tinha, em como ele ia em festas chiques todos os dias, quantas mulheres lambiam a bota dele, o quanto ele era rico para comprar uma ilha se ele quisesse! Nada sobre doar para os necessitados ou um pingo sequer de humildade.
Enquanto estive ao lado dele, percebi que eu conhecia alguém assim, alguém culto, inteligente, que gosta das mesmas coisas que eu, alguém que é muito doce e que se preocupa comigo: você.
Rafael, eu percebi que te amo. Percebi que o que sempre pensei ser só amizade, era muito mais do que isso, era um sentimento muito mais forte. Não sei como ignorei o fato que você mexe muito comigo, que olhar nos seus olhos faz com que as minhas pernas fiquem bambas, que meu chão desapareça, que meu coração bata mais rápido e mais devagar ao mesmo tempo, e que me falte ar. Eu te amo e, só percebi isso quando o meu ídolo, que era com quem eu estava mais preocupada, se mostrou alguém que não valia todo esse sentimento... que apenas você merece.”
“Você demorou para perceber isso, minha querida Carla, mas finalmente pôde ver o que realmente sente, e isso me faz imensamente feliz porque eu te amo desde a primeira vez que pousei meus olhos nos seus, e você sorriu esse seu sorriso radiante e meigo.”
Ele se aproxima dela, segura seu rosto, e a beija apaixonadamente.

Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

domingo, 5 de junho de 2011

Esconde esconde mortal

Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!





Esconde esconde mortal


Era madrugada de domingo, eu e mais cinco amigos estávamos brincando de esconde-esconde dentro da escola. Maria estava nos procurando. Após duas horas escondida no armário de faxina eu já havia caído no sono e então resolvi ir procurá-los.

Andei até o banheiro feminino, a luz estava acesa, assim que entrei abafei um grito. No espelho estava escrito em sangue “Estou indo te achar”, e dentro de uma das cabines estava minha melhor amiga degolada.

Corri até o laboratório, encontrei Jorge no chão com o rosto deformado, e vários vidros de ácido em volta. Aquilo estava me assustando. Lembrei do refeitório, e assim que cheguei minhas pernas perderam as forças. Rafael fora esfaqueado e deixado em cima de uma das mesas, e sangue estava espalhado pelo chão. Quando cheguei perto dele, ele ainda estava lutando para sobreviver, e ao me ver, ele gritou desesperado e morreu na minha frente. Peguei a faca que estava ao lado dele no chão caso precisasse.

Seu grito denunciou aonde eu estava, e o louco que invadiu a escola conosco chegaria logo, afinal só poderia ser um louco por trás disso. Corri para a diretoria, e ao passar pelo corredor da minha sala de aula, percebi a porta aberta e uma luz piscando lá dentro. Olhei com cautela, e vi o celular da Júlia piscando no chão. Entrei e o peguei. Ela tirou uma foto borrada de algo roxo. Não consegui identificar. Saindo da sala, reparei em uma das carteiras tortas, ao chegar perto, encontrei um revólver no chão. Uma arma igual a que meu pai tinha em casa. Me arrepiei inteira.

Corri para fora da sala e ao chegar na diretoria, estava vazia. Dei meia volta e, antes de sair, escutei um barulho baixo de respiração. Suei frio. Contornei a mesa da diretora, e encontrei Maria com um tiro no peito. Ela estava quase morrendo. Quando me aproximei, ela começou a chorar e a implorar pela vida, tentei ajudá-la, mas quando a toquei, ela me cortou superficialmente com uma faca do refeitório, e em seguida, cortou sua própria garganta.

Com o choque, corri para o portão, estaria trancado mas eu tentaria pulá-lo. Ao chegar no portão, percebi que era muito alto, e que sozinha não conseguiria. Se eu não encontrasse a Júlia, teria que buscar uma cadeira dentro da escola. Olhei em volta e, encontrei um par de olhos sem vida me encarando. Júlia estava pendurada em uma árvore. Enforcada! Ela era frágil, qualquer um podia arrastá-la aqui para fora. Mas por que eu não escutei nada? Dormi tão pesado assim? E quem invadiu a escola para nos matar?

Lembrei da biblioteca, lá era um lugar para me esconder, e a porta fechava bem. Corri para lá com os meus pulmões estourando, entrei, tranquei a porta por dentro, e arrastei um móvel para fazer uma barricada. Fui para o fundo, e olhei no espelho que havia lá. Um espelho enorme, escrito “Você perdeu!”. Meus instintos ficaram alertas, peguei a faca e olhei em volta.

Estava quieto e escuro. Mas escutei uma risada ecoando pela biblioteca, virei para o espelho de novo, e era eu quem estava rindo! Escutei na minha mente “É ótimo poder ser você e matar os seus amiguinhos idiotas”. Não! Olhei para a minha blusa, roxa. A foto do celular! Minha segunda personalidade os matou. Cruelmente. No desespero segurei a faca com força, e cortei a minha própria garganta. Enquanto eu morria, a risada gélida e cruel ecoava na minha mente, como uma maldição.


Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Uma visita inesperada

Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!



Uma visita inesperada
Um conto para o Takemi. Inspirei-me em nossas poucas conversas...
Rodrigo
Eu estava sentado sozinho como sempre. Na mesma mesa de sempre. Tomando o mesmo café de sempre. Na mesma padaria de sempre. A minha vida continuava na mesma rotina, e eu já estava cansado de tudo.
Foi quando a vi entrar, o rosto sério, o passo firme, dirigiu-se até o balcão, pediu algo que não pude ouvir. A garçonete a atendeu com a mesma graça que atendia todos os clientes, mas aquela ali era nova. Eu tomava o meu café no mesmo horário todos os dias, conhecia todos os clientes, mas definitivamente era a primeira vez dela.
Ela pegou seu pacote e olhou em volta. Todas as mesas já estavam ocupadas, a minha era a única que possuía uma cadeira vazia. Ela me olhou com a cara fechada, deu as costas e saiu.
Voltei ao meu café, mas o pensamento daquela garota não saiu da minha mente.
No dia seguinte, lá estava eu de novo. O movimento estava menor, era sexta-feira. Para a minha surpresa, aquela garota entrou afobada e foi até o balcão, e novamente saiu com o pacote.
Por três meses foi assim. Eu estava sempre lá, e a via quase todo dia. Raramente ela sentava em algum lugar, apenas olhava em volta e saía.
Um dia, cheguei atrasado, e depois de pegar o meu café, ao olhar para a minha mesa, lá estava ela. Sentada, comendo um pão de queijo e lendo um livro. Cheguei perto:
-Posso sentar aqui?
-Claro. –Ela me respondeu com um sorriso cativante.
Sentei junto a ela, e ficamos em silêncio. Mas aquela era a minha chance, se não conversasse com ela naquele instante, nunca mais o faria.
-Eu sempre a vejo aqui.
Ela me olhou nos olhos.
-Acho que peguei a sua mesa, não é? Desculpe, mas é que aqui é mais afastado, e é bom para ler.
-Ah, não se preocupe. Não tem problema nenhum. O que você está lendo?
-Um livro da Agatha Christie.
-Gosta de suspense?
-Adoro. Me estimula bastante ler as aventuras do Poirot.
-Eu percebi que está sempre com uma mochila, ou com cadernos na mãos. Está estudando o quê?
-Estou fazendo cursinho.
-Ah! Que curso você quer?
-Medicina. –Ela deu com os ombros.
-Medicina é muito interessante. Boa escolha, provavelmente adorará quando passar no final do ano.
-Ah, claro.
-Acha que não passará?
-Não é isso...Mas é difícil passar em uma faculdade pública, e eu não acho que esteja pronta.
-Você tem que estudar e se dedicar de coração. Mas você deve estar fazendo isso...
Ela apenas sorriu e baixou os olhos. Que fofa!
Continuei falando, mas ela não me respondeu tanto. Apenas concordava e sorria, ou respondia uma frase ou outra.
-Desculpe, você estava lendo e eu estou aqui falando sem parar.
-Não se preocupe, o livro posso ler em qualquer outro momento, conversar com você está interessante.
Eu apenas sorri, e voltei a falar. Alguns minutos depois, ela olhou para o seu relógio de pulso, e com um sorriso, declarou:
-Eu preciso ir agora.
-Claro, claro. Foi um prazer conversar com você.
-Até outro dia, então.
-Até.
Ela pegou seus livros e saiu. Assim que a vi desaparecer na rua, percebi que não perguntei seu nome.
Passou-se uma semana até ela aparecer novamente, pegou o seu pacote, e antes de sair, apenas me deu um aceno de cabeça e um sorriso contido.
No dia seguinte, eu estava lendo meu jornal alheio à tudo, quando de repente, percebi que alguém sentou na cadeira na minha frente, e estava respirando rápido. Baixei o jornal, e me deparei com a mesma garota, mas que estava quase enxarcada.
-Olá.
-Oi, posso sentar aqui? –Ela perguntou ainda afobada.
-Claro. Está chovendo muito forte?
-Sim, e eu estou sem guarda-chuva.
-Não há nenhum lugar para comprar aqui por perto?
-Não, mas tudo bem. Só voltarei de noite para casa, se ainda estiver chovendo, não terei problema em me molhar.
-Eu... Eu posso te dar uma carona se você quiser, é claro.
-Ah, não seria estranho?
-Não. Aliás, meu nome é Rodrigo.
-Ah. –Ela corou. –Meu nome é Daniela.
-E aonde você mora?
-Na zona oeste. Mas não se preocupe, eu vou de metrô mesmo.
-Não, não. Eu moro na zona norte, mas não há nenhum problema em te dar uma carona.
Ela me olhou um pouco desconfiada, mas sorriu ao concordar:
-Está bem, se não houver nenhum problema.
-Eu saio às dezenove horas do meu trabalho, e você?
-Dezenove e trinta.
-Posso te esperar aqui mesmo, então?
-Aqui já estará fechado, mas pode me esperar no bar aqui da frente.
-Está combinado.
-Obrigada.
-Não é nada.
Ela comeu o que havia comprado, e conversamos. Hoje ela já estava um pouco mais falante.
Dez minutos depois ela se levantou:
-Dezenove e meia no bar da frente, certo?
-Certo. –Respondi.
Ela sorriu e saiu.
Voltei para o meu trabalho, e a esqueci. Só lembrei quando pisei na rua. Me dirigi até o bar, entrei e a esperei. Ainda chovia.
Quarenta minutos depois ela entrou correndo, e molhada. Ela me avistou em uma das mesas mais afastadas, e andou na minha direção.
-Eu sinto muito, me atrasei dez minutos. Desculpe por fazê-lo ficar me esperando.
-Não se preocupe com isso. Vamos?
-Sim.
Corremos até o carro. Ela me disse aonde morava, e eu a levei até lá. Era um apartamento aparentemente simpático. Ela me agradeceu, e desceu do carro.
Fui para casa, tomei um banho e caí na cama, apenas querendo esquecer aqueles lábios rosados e, o perfume dos seus cabelos.
No dia seguinte, ela sentou na minha mesa, e conversamos bastante.
Isso durou quase um mês, até que ela me perguntou se eu poderia dar uma carona para ela naquele dia.
-Sem problema, eu dou uma carona sim.
-Desculpe pedir em cima da hora, mas é que eu tive uns problemas em casa, e não quero voltar tão cedo.
-E tem medo do metrô?
-Tenho. Sei que parece bobagem porque tenho dezenove anos, mas simplesmente tenho medo.
-Não é bobagem, eu com os meus vinte e seis anos também não sinto muita segurança em andar em certos lugares.
-Vinte e seis?
-Não pareço tão velho assim? –Falei rindo.
-Na verdade, não. –Ela riu. –Deve ser o seu cabelo loiro.
-E não esqueça dos meus olhos azuis! –Ambos rimos.
-Mas eu chutaria uns vinte e três.
-Obrigada. E você também é novinha.
-Mas voltando ao assunto... Até que horas você pode me esperar?
-Até as vinte, de preferência.
-Vinte horas está bom.
-No mesmo bar da frente?
-Exato.
-Está bem.
-Eu já vou indo, depois nos vemos.
-Até depois, Dani.
Ela me deu um sorriso, e saiu.
Voltei ao trabalho, e depois que saí, fiquei conversando com o pessoal que trabalhava comigo até dezenove e meia. Fui até o bar, e pedi algo para beber.
Com o tempo, o bartender continuou me servindo, mas não reparei no que era, só continuei bebendo, e quando percebi, eu já havia tomado vodka e whiskey o suficiente para me fazer falar enrolado.
Daniela chegou, e me encontrou na mesma mesa da última vez, mas eu estava bêbado.
-Rodrigo? O que aconteceu?
-Descuuuuuuuuuuuuuuuuulpe. Acho que eu beeebiiiii.
-Tudo bem, eu dirijo. Aonde você mora?
-Não, não. Tenho que te levar.
-Eu posso pedir um táxi.
-Nãooooo, eu levo.
-Você pode dormir lá em casa, por causa da bebedeira.
Eu apenas ri maliciosamente, mas ela me olhava séria.
-Tááááá.
Ela me acompanhou até o carro, e dirigiu até o seu apartamento.
Daniela
Estacionei o carro na garagem, e o ajudei a chegar até o apartamento. Deixei-o sentado em uma cadeira enquanto transformei o sofá em uma cama.
Droga! O que eu estava fazendo? Eu nem o conheço tão bem assim para oferecer o meu sofá para ele passar a noite. Se minha irmã chegar de viagem hoje, eu estou ferrada. Meus pais farão o maior escarcéu e me mandarão de volta para aquela cidadezinha no meio do nada aonde eles moram.
Rodrigo já estava quase desmaiando, pelo menos ele era um bêbado calmo. Ele se apoiou em mim, e o levei até o sofá. Ele sentou, ajoelhei na sua frente e tirei seus sapatos, e a camisa molhada. Já estava com uma camiseta seca nas mãos quando ele me puxou para perto dele. Pude sentir seu corpo quente tocando o meu e corei instantaneamente.
-Rodrigo, o que está fazendo?
Ele aproximou o seu rosto do meu.
-A sua boca é tão atraente, Dani.
Ele estava tão perto... Ele olhou a minha boca com tanta vontade... Mas eu não poderia, ele estava bêbado... Eu podia sentir tão bem o toque da sua pele...
Impulsivamente, puxei seu rosto até o meu e, o beijei.
O gosto da bebida não era um dos melhores mas, ele me beijou com tanta intensidade que eu quase esqueci quem ele era.
E de repente, ele me soltou e, com um suspiro caiu na cama, em um sono profundo.
Fiquei parada olhando-o, com o rosto em brasas, e a mão na boca.
Por Deus, o que eu acabei de fazer?
Depois de cinco minutos, levantei, pendurei a camisa, tomei um banho quente, e dormi.
Acordei tarde no dia seguinte, era sábado e algum celular tocou às dez e meia da manhã. Levantei e me arrastei até a sala. Rodrigo estava de costas para mim, sentado no sofá, falando ao telefone. Eu esperei na porta do meu quarto até ele terminar, e tudo o que eu escutei me chocou:
-Sim, sim. Sinto muito, querida. Eu deveria ter contado que ficaria na casa de um amigo, é que eu acabei bebendo mais do que deveria. Sinto muito. Sim, claro, eu vou buscar a sua mãe no aeroporto. Claro, tenho que ser um ótimo genro. Sim, sim, desculpe de novo. Te amo. Beijos.
Ele desligou e respirou fundo.
Abri mais a minha porta para fazer barulho, e ele se virou e me olhou nos olhos.
-Sinto muito por incomodá-la.
-Não se preocupe, só te dei uma cama e um lugar para passar a noite, não aconteceu nada. –Respondi um pouco apreensiva.
-Eu só me lembro de entrar no carro.
-Hum, eu ia trocar a sua camisa, mas você acabou dormindo assim que tirou a molhada.
Ele apenas riu.
-Não se preocupe, não fiquei gripado nem nada.
-Ótimo! –Eu sorri. –Vou preparar algo para comermos e...
-Ah, não será preciso. Tenho que resolver alguns assuntos.
-Ah.
-Posso devolver a camiseta depois?
-Claro.
Ele vestiu os sapatos, pegou a camisa quase seca, me deu um beijo no rosto, e foi embora.
Afundei no sofá, e fiquei o dia inteiro olhando para a varanda, pensando...
Fiquei uma semana sem aparecer na padaria, eu não tinha coragem de vê-lo, não depois do que fiz. Mas ele estava com a minha camiseta, e eu precisava pegá-la de volta.
Finalmente, depois da aula eu fui até lá. Entrei, pedi um pão de queijo, e sentei na mesma mesa que ele.
-Boa tarde, Rodrigo.
-Boa tarde, Dani. Está sumida, hein?
-Estava ocupada.
-Aqui está a sua camisa. –Ele a entregou dentro de uma sacola.
-Obrigada.
Conversamos sobre outras coisas, mas eu já estava na hora de ir, e precisava acabar com aquilo. Respirei fundo e perguntei:
-Você é casado?
Ele ficou alguns segundos parado olhando para mim.
-Sim.
-Por que não usa aliança?
-Não gosto. Por quê? Da onde veio essa pergunta?
-Eu gosto de você, ou eu acho que gosto.
Ele não respondeu.
-Naquela noite na minha casa...
-Rodrigo! –Alguém chamou.
Ele olhou para alguém atrás de mim e sorriu, mas um sorriso preocupado.
-Nós nos beijamos antes de você apagar, mas quero que você saiba que foi sem querer, e que além de não acontecer novamente, eu não aparecerei mais aqui. –Cuspi as palavras com pressa.
Ele me olhou atento.
-Não aparecerá mais aqui? Mas...
-Adeus, Rodrigo. Obrigada por todas as conversas que tivemos até hoje. –Levantei, dei meia volta, e passei por uma mulher elegante e de olhos alegres. Quando cheguei na porta, olhei para trás, a mulher estava sentada no mesmo lugar onde eu costumava sentar. Rodrigo me olhava, apenas sorri e acenei.
Fui embora, e nunca mais entrei naquela padaria. Encontrei com Rodrigo algumas vezes depois disso, mas passávamos um pelo outro como se não nos conhecemos...


Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!
Ps: talvez eu reescreva esse conto com um final mais caprichado.

sábado, 28 de maio de 2011

Uma noite encantada


Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!





Uma noite encantada

Prendi a fita no cabelo e olhei uma última vez para o espelho.
Aquele era o último dia que passaria no castelo de meu pai, mas eu não estava pronta para partir. Não ainda.
Desci a escadaria até o sagão. Os criados estavam ocupados com seus afazeres para o dia seguinte, e felizmente ninguém tinha tempo para prestar atenção em mim.
Escapei pela cozinha, entrei escondida no celeiro, coloquei a sela na minha égua, montei-a e cavalguei para fora das muralhas. Nem mesmo os guardas me viram.
Cavalguei com o vento balançando meus cabelos, e com a Liberdade como companheira mais íntima.
Krist me levou até a clareira da floresta que circundava o reino. Soltei sua sela e a deixei livre para pastar. Desamarrei minhas sandálias, e pisei na relva úmida. Adorava aquela sensação, e a partir de amanhã, eu a perderia para sempre.
Deitei e fiquei olhando o céu que as copas das árvores cobriam. O balançar das folhas, o canto dos pássaros, o barulho dos besouros. A natureza à minha volta estava em paz, e eu também. Após algum tempo, adormeci com pensamentos ao longe... em vidas que gostaria de ter.
Acordei com gotas d’água no rosto, abri os olhos e constatei que já havia escurecido. Levantei assustada e procurei pelas minhas sandálias; achei-as junto com a sela. Mas Krist não estava comigo na clareira.
-Krist? –Chamei.
A chuva já havia engrossado, e eu estava completamente encharcada.
-KRIST! –Gritei.
Não obtive resposta. Andei para fora da clareira, e continuei tateando entre as árvores. Tropecei em um tronco e caí de cara no chão. Ajoelhei e larguei as sandálias, limpei a lama do rosto e levantei. Escutei um barulho de trovão perto.
Com o medo, saí correndo e acertei várias árvores, tropecei e caí muito. Estava assustada, molhada, com frio, fome e perdida. E o pior é que eu não havia contado para ninguém aonde ia.
Continuei correndo, tropecei e caí em uma ribanceira, rolei até parar ao pé de uma árvore. Senti dores pelo corpo, meus pés estavam feridos, meu vestido rasgado, cortes e arranhões pelas pernas e braços, até mesmo em meu rosto. Eu estava coberta de lama, grama e folhas.
Chorei de desespero. Eu deveria ter contado à alguém aonde iria, mas não o fiz, e ninguém me viu sair. Quando perceberem o meu sumiço já será tarde demais, e provavelmente pensarão que fugi. O que não era uma total verdade.
Já havia chovido por um longo tempo, estava perdida no meio da floresta, teria que esperar até a manhã seguinte para tentar achar o caminho de volta. E havia Krist, ela também estava perdida.
Escutei barulhos perto de mim e estremeci. Estava escuro demais para poder enxergar algo. De repente, um ser encapuzado surgiu na minha frente, com a escuridão não pude ver o seu rosto, mas percebi que também estava encharcado.
-Está perdida?
-Sim.
-Venha comigo, te darei abrigo para a chuva, e assim que o Sol raiar, levarei-a de volta para o reino.
-Obrigada.
Ele me estendeu a mão, e me ajudou a levantar. Me guiou devagar e com atenção. Andamos por algum tempo até chegarmos na base de uma grande árvore. Havia uma cabana, com as luzes acesas.
Entramos; ele retirou a sua capa e a colocou em um suporte próximo a uma das lareiras acesas. Esperei na entrada, pingando. Ele sumiu por uma porta, e voltou alguns minutos depois, com uma muda de roupa seca e uma toalha.
-Por aqui. –Ele entrou no cômodo ao lado.
Eu o segui tremendo de frio, e sujando o chão. Havia uma tina de água com biombos em volta. Ele deixou as roupas em um banco e se retirou. Me despi, e tomei um banho relaxante. Vesti a blusa de algodão branco, que ficou larga, e uma calça marrom, que ficou enorme.
Voltei para a sala, que já não apresentava mais as marcas da minha suja passagem. Encontrei-o se aquecendo perto da lareira, de costas para mim.
-Hum... Obrigada pelo banho.
Ele se virou e me olhou nos olhos; por alguns instantes prendi minha respiração. Seu cabelo preto estava desarrumado, seus olhos castanhos eram lindos, e possuiam um ar misterioso. Sua pele morena de sol se intensificava com a luz da lareira, sua roupa ainda molhada estava grudada em seu corpo, tornando visível seu corpo musculoso e viril, e seus lábios vermelhos se abriram em um sorriso contido. Senti meu corpo ficar quente, e meu rosto ficou completamente vermelho.
-Sente-se perto da lareira e se aqueça um pouco. –Ele respondeu calmo, mas sem o sorriso.
-O-o-obrigada.
Ele se levantou e passou por mim, pude sentir seu cheiro e isso me estremeceu. Sentei na poltrona perto da outra lareira. Nenhuma vez durante meus dezessete anos fiquei tão próxima de um homem. Estava acostumada com a presença do meu pai, dos meus dois irmãos, ou dos criados que trabalhavam no castelo, mas minha família era a minha família, nada mais além disso; eu não era como algumas das minhas cinco irmãs que antes de se casarem foram para a cama do meu irmão mais velho, que era um cavaleiro. E com os criados, nunca ficava perto deles por muito tempo. E até mesmo com os reis, príncipes, cavaleiros e a nobreza que apareciam nas festas do castelo não tive muito contato. Minha mãe e minhas amas sempre estavam tomando conta de mim.
Era a primeira vez que eu estava sozinha com um homem, e eu nem o conhecia. Senti um arrepio pelo corpo. Eu estava sozinha com um homem desconhecido! Ele poderia ser um ladrão, um assassino, qualquer coisa! Que tipo de pessoa mora no meio da floresta? Olhei em volta. Era uma cabana simples mas confortável. Havia três lareiras acesas, uma poltrona, uma mesa com duas cadeiras, várias lamparinas acesas, as várias janelas cobertas com cortinas pesadas. Uma porta que deveria ser o quarto, e outra que dava para perceber ser a cozinha. Pensei em ir até a cozinha, pegar uma faca e fugir. Mas a troco de que? Ele não fez nada de mal para mim, não pareceu ser hostil, nem tentou nada com segundas intenções.
Não sei quanto tempo fiquei parada olhando para a cozinha, absorta em meus próprios pensamentos. Só voltei à realidade ao ouvir a voz dele:
-Se está planejando fugir com alguma arma, eu aconselharia a ir sem nenhuma. Não irei atrás da senhorita, nem lhe farei nenhum mal.
Olhei-o apavorada.
-Não, eu só estava pensando...
-Fique à vontade. A senhorita é minha convidada e não minha escrava, ou qualquer outra coisa.
Meu rosto se tornou vermelho-vivo novamente; era como se cada palavra dele fosse calculada antes. Ele havia tomado banho, e estava com uma roupa limpa. Seu cabelo estava molhado, como o meu também estava. Ele deu meia volta e voltou ao toalete.
Voltou alguns minutos depois com uma toalha seca e me entregou.
-Para o que...?
-Seque o seu cabelo. Não quer pegar um resfriado.
-Obrigada. –Respondi incerta.
Passei a toalha delicadamente pelo meu cabelo úmido. Ele sumiu novamente.
Depois de secar meu cabelo, levantei e fui atrás dele. Encontrei-o lavando meu vestido em uma tina.
-O que está fazendo?
Ele me olhou surpreso.
-Lavando o seu vestido.
-Por quê?
-Para você poder voltar com ele amanhã. Sua família deve estar preocupada com você, e se você voltar como veio não haverá problema nenhum.
-Você não quer que ninguém saiba que eu estive aqui?
-Eu não quero que ninguém venha importunar a minha paz.
Recebi aquilo como uma reclamação. Afinal, eu estava importunando-o, certo? Eu estava na floresta dele, perto da casa dele, e ele ainda teve o trabalho de me trazer até aqui.
-Tenho certeza que receberá uma boa quantia por me devolver. –Minha voz saiu ressentida e arranhada.
Ele me olhou nos olhos.
-Não me importo com dinheiro. –Respondeu sério.
-Você não precisa lavar o vestido.
-Eu já respondi por que o estou limpando.
-Eu não voltarei com ele amanhã.
-Por quê não? É seu.
-Pode ficar com ele, vender ou jogar fora. Não me interessa. Eu voltarei com as roupas que estou usando.
-Já disse que voltará com o vestido.
-Ninguém reparará no que estarei usando! Eu sumi no começo da tarde, e é capaz de ninguém ter reparado ainda! Todos eles só se preocupam com a idiotice do casamento de amanhã, e nunca se importaram de me perguntar o que eu achava daquilo tudo! Então não, eu não vou voltar com a droga do vestido! –Explodi.
-Você é uma das filhas do rei? –Ele perguntou sem emoção.
-Sou.
-Você é a princesa que se casará amanhã?
-Não. –Menti.
-Então por que o casamento te irrita tanto?
-Porque é a minha irmã. Eles não se preocuparam de perguntar se ela queria casar, eles apenas decidiram por si mesmo e depois contaram. Foi um choque brutal para ela. A partir de amanhã ela estará renegada de tudo o que gosta de fazer.
-E você se sentiu renegada por causa do casamento?
-Sim. Todos esqueceram que eu existia. –Todos ignoraram a própria noiva, inclusive minha mãe.
-Isso não te deixa feliz? Assim você pode vir para a clareira sem ter que se preocupar de ter que explicar aonde estava.
Ele sabia aonde eu estava?
-Como sabe da clareira?
-Você está na minha floresta. Eu sei de tudo.
-Eu não quero mais conversar. –Respondi emburrada.
-Tudo bem. –Ele voltou a lavar o vestido.
Aquilo me irritou muito. Ele simplesmente tinha ignorado tudo o que eu havia dito! Em um ataque de raiva, arranquei o vestido dele, corri até a porta, e joguei o vestido para fora. Ele caiu em uma poça de lama.
-O que está fazendo? –Ele perguntou irritado.
-EU NÃO VOLTAREI COM O VESTIDO!
Ele me olhou bravo.
-Vá para dentro!
-Você vai buscar o vestido?
-Vá para dentro, agora!
Fiquei com medo. Sua voz soou cheia de raiva, e seus olhos estavam vazios.
Apenas entrei e o ignorei. Sentei em uma das poltronas, de costas para a porta. Não vi nada, mas escutei tudo. Ele saiu na chuva, pegou o vestido, voltou um pouco molhado e com as botas sujas, e entrou no toalete. Foi lavar o vestido.
Por que ele não me escutava, droga? Não era muito difícil ignorar o vestido. Levantei e fui até a cozinha. Estava com fome. Achei água e pão. Comi um pouco, e voltei para a poltrona. Ele ainda não havia aparecido. Me aconcheguei na poltrona e cantarolei uma música antiga, que a minha mãe costumava cantar para mim, quando eu era menor. Adormeci em pouco tempo.
Acordei de madrugada com a voz dele me chamando:
-Senhorita, acorde. O Sol se levantará daqui a pouco, e não está mais a chover.
Esfreguei os olhos e percebi que havia um cobertor de pele me aquecendo. Levantei, dobrei-o e o deixei em cima da poltrona. Na mesa havia uma bacia com água para lavar o rosto, uma toalha, um prato com pão e carne, e um copo com suco.
Lavei o rosto, e comi tudo o que havia na mesa. Meu vestido estava seco, limpo e dobrado na cadeira ao lado. Ignorei-o.
-Cadê você? –Perguntei.
Ele entrou pela porta da frente. Usava roupas simples, e a mesma capa de ontem.
-Está pronta?
-Sim.
Ele me olhou, e depois olhou para o vestido.
-Não irá usá-lo de jeito nenhum?
-Não.
-Prenda seu cabelo. –Ele me entregou a minha fita de cabelo.
Prendi o cabelo, e o segui para fora da cabana. Ainda havia lama, e meus sapatos emprestados logo ficaram imundos. O Sol ainda estava raiando.
-Acredito que essa égua seja sua.
-Krist! –Exclamei alegre.
Ela estava sem sela, mas estava parada perto dele. Corri e a abracei. Senti vontade de chorar, mas me controlei.
-Obrigada por achá-la.
-Foi ela quem me achou. –Ele sorriu. E era um sorriso cativante, como se nada tivesse acontecido ontem.
Com a ajuda dele, montei-a e começamos a caminhar. Ele a pé, e eu em cima de Krist.
Andamos em silêncio por um bom tempo, até que eu quebrei o silêncio.
-Qual é o seu nome?
-Por que quer saber?
-Porque você me salvou.
-Se eu não a tivesse salvo, se importaria em saber o meu nome?
Fiquei constrangida com a pergunta.
-Acho que não.
-Então não se importe agora também.
-Mas agora eu me importo. Qual é o seu nome? Se não quiser que eu conte, eu não conto para ninguém.
Ele nem ao menos me olhou.
-Sério, me conte.
-Owayne. Satisfeita?
-Sim. Meu nome é...
-Não quero saber o seu nome. –Ele me cortou ríspido.
-Está bem, me desculpe.
Voltamos ao silêncio.
Quando chegamos no final da floresta, ele parou e me olhou.
-O que foi? Por que paramos aqui?
-Você voltará sozinha. Não preciso ir com você.
-O quê? Por quê?
Ele se afastou de mim, encostou-se em uma das árvores e baixou os olhos para o chão. Desmontei, e andei até ele. Engoli minha timidez e a irritação que ele estava provocando, e encostei em seu ombro.
-Obrigada por ter me salvado da chuva, por ter me dado abrigo, e por cuidar de mim durante essa noite. E desculpe por causar problemas, e por brigar por causa do vestido.
Ele olhou no fundo dos meus olhos, e sorriu. Mas seus olhos estavam vazios, e seu sorriso triste. Ele deveria ter uns vinte e quatro anos, mas parecia muito mais maduro do que isso.
Ele passou os dedos pelos meu cabelo louro, pelo meu rosto vermelho de vergonha, pela minha boca rosada. E aquele carinho era tudo o que eu queria naquele momento. Ele tomou conta de mim, ele foi atencioso e distante, mas cada ato seu estava carregado de carinho.
Me aproximei dele, e beijei-o, mas ele desviou o rosto e em vez disso, me abraçou. Senti seus braços fortes em volta de mim, me apertando com cuidado. Senti seu cheiro, o calor da sua pele, seu toque. E me arrepiei toda.
Ele se afastou de mim constrangido.
-Me perdoe, não era a minha intenção tocá-la. –Ele não me olhou nos olhos.
-Ah...não, tudo bem. Eu peço desculpas também.
Ele tirou a bolsa que carregava e me entregou.
-Por favor, fique com ele.
Não precisei olhar dentro da bolsa pra saber que meu vestido estava lá dentro.
-Ficarei.
Ele me ajudou a montar na égua novamente.
-Obrigada, Owayne. –Agradeci sorrindo.
-Tome cuidado da próxima vez, Kale. –Ele respondeu com um sorriso contido.
Eu não queria partir, era estranho, mas algo me impedia de ir embora. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, ele deu um tapa em Krist, que saiu galopando. Olhei para trás uma última vez, mas ele já havia desaparecido.
Cheguei em pouco tempo no castelo. Desmontei logo na entrada, e deixei minha égua com um criado. Entrei gritando:
-MÃE? PAI? EU CHEGUEI!
Meu segundo irmão apareceu no pátio, estava com a sua roupa de padre como sempre.
-Kale! Você está viva!
-É claro que estou!
Nós nos abraçamos.
-Acharam uma sela e as suas sandálias perdidas na floresta. Achamos que algo terrível tivesse acontecido.
-Eu me perdi na chuva.
-Graças à Deus você está bem!
Na verdade... foi graças ao Owayne...
Minha mãe apareceu logo, seguida pelas minhas irmãs.
-Filha! Graças à Deus você está viva! –Ela me abraçou comovida.
-Está tudo bem, mãe.
-Você sumiu, achamos suas coisas na floresta...fiquei tão preocupada.
Sorri aliviada. Eles estavam preocupados comigo.
-E que roupas são essas? –Minhas irmãs notaram.
-Uma roupa de homem.
-Traindo o seu quase-marido antes do casamento?
-Nós nunca pensaríamos algo assim de você, irmã!
-Quietas! –Minha mãe ordenou. –Por que está com essas roupas, Kale?
-Um homem da floresta me salvou ontem à noite da chuva, mas ele não tocou em mim, mãe. Juro!
-Tudo bem, tudo bem. Agora vá se trocar, tem que estar apresentável para o seu pai.
Eu parei e olhei séria para a minha mãe.
-O que foi?
-Por que elas disseram quase-marido? –Perguntei confusa.
-Ah filha... Logo de madrugada recebemos um mensageiro dizendo que o rei cancelava o casamento.
-Rei? Eu ia casar com um rei?
-Sim, filha.
-Mas por que ele cancelou? Ele achou que eu fugi? Ele...
-Kale, não foi nada disso. Foi um choque para nós, do mesmo jeito intempestivo que ele pediu sua mão, ele a rejeitou. A mensagem só dizia que ele pensou melhor, e você era nova demais para casar. O papel está no seu quarto, poderá lê-lo quando quiser. Agora, suba.
-Sim, rainha.
Subi correndo para o meu quarto, tomei banho, e coloquei um vestido simples. Abri a bolsa, e tirei o vestido. Dentro da bolsa ainda havia um colar. Havia uma placa de ouro decorado com diamantes aonde estava inscrito o nome dele. Achei estranho ele ter me dado aquilo, talvez tivesse caído sem querer. Era algo valioso para se perder assim. Olhando aquele colar senti vontade de chorar, mas não entendi o por quê. Coloquei-o em volta do meu pescoço.
Andei até a escrivaninha, e li a mensagem.
Soltei o papel e gritei.
Meu pai irrompeu no quarto momentos depois.
-Kale? Filha? O que houve? Você está bem? –Sua voz estava assustada.
-Pai... –Falei com a voz fina e arranhada.
-Por que está chorando? Está segura aqui em casa, querida.
Eu o abracei chorando e tremendo. Por isso ele me chamou pelo nome ao se despedir, brigou comigo por causa do vestido que fora presente do meu noivo e por isso ele me deu o colar!
Owayne era o meu noivo! E eu contei como estava odiando o casamento! Lembrei da minha mãe contando que meu noivo adorava caçar, era por isso que ele tinha uma cabana, é por isso que ele já havia me visto na clareira. Ele havia se apaixonado por mim antes de pedir minha mão!
-Pai, eu preciso encontrar o Owayne!
-O rei com quem você ia se casar? Mas filha, ele cancelou o casamento.
-Ele me salvou ontem à noite, eu preciso falar com ele, pai.
-Está certo. Chamarei meus cavaleiros para procurá-lo na floresta.
-Eu sei aonde ele está.
-Você não voltará lá sozinha, Kale. –Foi uma ordem.
-Entendi, senhor.
Ele se retirou do quarto, esperei alguns minutos e saí correndo para fora do castelo, montei em Krist, e tentei fugir, mas os guardas me viram e tentaram me impedir no portão.
-Saiam da minha frente!
-Princesa! Não podemos deixá-la passar!
Avancei em cima deles, eles pularam para o lado, e eu galopei à toda velocidade. Entrei na floresta, e fui direto para a cabana, eu havia decorado o caminho na volta. Cheguei, desmontei e corri até a porta. Estava trancada. Bati, mas ninguém respondeu.
-OWAYNE? CADÊ VOCÊ? EU JÁ SEI DE TUDO.
Silêncio.
-POR FAVOR, OWAYNE. EU PRECISO CONVERSAR COM VOCÊ. –Implorei.
Silêncio.
Comecei a chorar, meu coração estava dilacerado. Ele era o homem que eu amava, não admitia a idéia de tê-lo perdido dessa maneira.
De repente, senti alguém me puxando pelo braço. Era ele.
-Kale, por que está gritando? E por que está chorando?
-Você era o meu noivo. –Respondi fungando.
-Sim.
-Por que não me contou?
-Você não queria casar comigo.
-Não queria casar com um estranho. Mas eu quero me casar com você!
Ele me puxou e me beijou apaixonadamente.
Foi meu primeiro beijo, e o primeiro de vários outros. Casei com Owayne naquele mesmo dia, e sempre voltávamos uma vez por ano para a nossa cabana encantada, onde tudo começou...

Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um amor errado

Se não quiser ler a estória no blog, baixe-a para o seu computador! Clique na seta abaixo e faça o download! Só não se esqueça de comentar a sua opinião. Seja sincero!



Um amor errado
Olhei pelo corredor e lá estava ele parado conversando com outro homem. Desci pensativa as escadas de serviço para a minha sala. Fazia quatro meses que ele trabalhava na mesma empresa que eu mas nunca nos falamos. Eu estava na contabilidade e ele na gerência. Desde o momento em que o vi entrando no elevador, com aquele rosto tranqüilo, me encantei. Foi amor à primeira vista.
Trombei com o Fernando na porta da minha sala.
-Fernando. Estava me procurando?
-Ah, eu...hã...não. Quero dizer, estão te chamando lá em cima.
-Lá em cima? O que será que eles querem?
-Não sei, mas deve ser algo bom.
Respondi com um sorriso e andei nervosa até o elevador. O que será que queriam de mim? Não lembro de ter cometido nenhum erro. Ou será que não percebi? Lá em cima era o Alto Comando, era como costumávamos chamar os diretores da empresa.
Subi até o décimo sexto andar e parei na frente da secretária.
-Oi, Thais. O Fernando me avisou que querem falar comigo.
-Olá, Viviane. É isso mesmo, pode entrar. –E indicou a porta de reuniões.
Engoli em seco e entrei. O diretor e o gerente de finanças estavam sentados à mesa quando entrei. O que significa que aquele anônimo que me fascinou estava lá, afinal ele era o gerente de finanças.
-Bom dia. –Cumprimentei.
-Bom dia, Viviane.
-Bom dia. –Pude ouvir sua voz doce sendo dirigida à mim. –Sente-se, por favor.
Sentei. Apertei minhas duas mãos embaixo da mesa, estava nervosa.
-Você provavelmente quer saber por que a chamamos, certo?
-Sim.
-Faz algum tempo que você trabalha conosco, percebemos que você é uma ótima funcionária e discutimos sobre o assunto. –O diretor continuou.
Fiz que sim com a cabeça.
-E resolvemos te dar uma promoção. –Ele completou a frase do diretor.
Meus olhos brilharam.
-Gostaria de se tornar a nova vice-gerente de finanças?
-Se eu gostaria? Eu adoraria!
-Ótimo! Você ganhará um aumento de cinqüenta por cento no salário, e amanhã mesmo já pode se mudar para a sala ao lado da do Jorge.
Jorge. O seu nome era Jorge.
-Obrigada.
-É só. Pode se retirar.
Levantei sorrindo.
-Obrigada. –E saí.
Desci de elevador explodindo de felicidade. Uma promoção! E ainda poderei trabalhar com o Jorge.
Entrei correndo na sala do Fernando.
-O que foi? O que eles queriam?
-Você está olhando para a nova vice-gerente de finanças! –Falei alegre.
-Uau! Parabéns!
Eu o abracei.
-Não é ótimo?
Ele se livrou do meu abraço sutilmente.
-É sim... –Percebi certo desânimo em sua voz.
-O que foi? Não está feliz por mim?
-Não é isso. É que não nos veremos tanto como agora...
Fiquei em silêncio por alguns segundos. Olhando por esse lado, de repente me senti inquieta. Eu queria muito essa promoção mas senti como se ir para o nono andar não fosse algo tão bom assim.
-Mas ainda continuaremos amigos, certo? –Ele quebrou o silêncio com um sorriso tímido.
-Claro!
Voltei para a minha sala um pouco abalada. Mas logo esqueci esse sentimento. Eu iria trabalhar com o Jorge!
No dia seguinte cheguei mais cedo e fui realizar a minha mudança de sala. Assim que sentei na minha nova cadeira e olhei para a minha nova (e grande) sala, a sensação de vazio me afetou. Algo faltava. Mas Jorge entrou no mesmo momento e a sensação de vazio foi substituída por alegria.
-Bom dia, Viviane.
-Bom dia, Jorge. –Falei empolgada.
-Pronta para o trabalho?
-Sempre.
-Ótimo! –Ele respondeu rindo.
O dia de trabalho foi puxado mas valeu cada segundo por ter Jorge ao meu lado.
Naquela mesma tarde, um pouco antes de acabar o horário de trabalho, eu estava mergulhada em uma conta da empresa quando Jorge apareceu um pouco sem graça.
-Aconteceu algo?
-Não, eu só... Está ocupada agora?
-Não muito, pode falar.
-Eu estava pensando...se você não quer comemorar a sua promoção hoje à noite. Eu conheço um ótimo restaurante...
-Só nós dois? –Perguntei surpresa.
-Ah, eu posso chamar o pessoal se você quiser. –Ele respondeu mais sem graça ainda.
Ele estava me convidando para sair?
-Não, tudo bem. Eu adoraria jantar com você.
Seus lábios se abriram em um enorme sorriso.
-Ótimo!
Assim que terminou o horário, dei uma passada no banheiro, dei uma ajeitada no meu cabelo e retoquei a maquiagem. Encontrei-o na porta do prédio. Ao me ver ele sorriu mais ainda.
-Está pronta?
-Sim.
Fomos no carro dele porque eu havia vindo de metrô no dia. O jantar foi ótimo. Conversamos o tempo todo, ele queria saber tudo sobre mim. Fiquei completamente lisonjeada com o interesse dele.
Ele me deixou em casa e ainda no carro, nós nos despedimos.
-Obrigada pelo jantar, foi maravilhoso.
-Fico feliz que você tenha gostado.
-Sabe, eu sempre te vi andando pela empresa mas nunca tive coragem de puxar conversa.
-Eu digo o mesmo! Você estava sempre perambulando pelos mesmos corredores que eu mas sempre a vi conversando com um cara e pensei que estivessem juntos.
-Quem? O Fernando? –Eu ri. –O Fernando é só meu amigo.
-Ah. É que vocês dois juntos...
-O que tem?
-Nada... só achei que fossem um casal.
Eu ri novamente.
-Você tem uma coisa nos olhos. Feche-os que eu tiro.
Fechei meus olhos e de repente senti seus lábios nos meus. Aquela sensação me derreteu por dentro mas algo pulsou dentro de mim e eu sabia que estava apaixonada.
-Boa noite. –Ele respondeu sorrindo.
-Boa noite. –Eu entrei correndo em casa, queimando de vergonha.
No dia seguinte foi tudo normal, mas percebi que ele me olhava de um jeito diferente. Dois dias depois, ele me convidou para sair novamente. Eu aceitei, obviamente!
Fomos ao cinema assistir um filme romântico. Foi perfeito!
Ele me comprou um buquê de flores, e dividimos um sorvete enquanto passeávamos pelo parque à noite. Novamente, ele me deixou em casa e se despediu com um beijo. Mas havia algo em seus olhos que me diziam mais.
No dia seguinte, ele me acordou de manhã com um telefonema de bom dia. Achei aquilo fofo. Era um sábado e ele perguntou se eu não queria fazer nada. Respondi que tinha que ficar em casa porque era dia de limpeza e ele se despediu com uma voz desapontada.
No domingo, acordei com uma mensagem do Jorge, perguntando como havia sido a limpeza e se eu iria fazer algo. Pensei por um tempo e ignorei a mensagem.
Três horas depois, o meu telefone tocou.
-Alô?
-Viviane? Está tudo bem?
-Ah, oi, Jorge. Tudo bem sim, por quê?
-Você não respondeu a minha mensagem, pensei que algo pudesse ter acontecido.
-A sua mensagem...é que eu estava meio ocupada e esqueci. Desculpa.
-Tudo bem. Mas e então? Quer sair hoje? Almoçar fora? Passear?
-Ah... –Pensei por alguns instantes. –Desculpa, mas vou ver a minha mãe hoje.
-Sua mãe? Ah. Manda um oi para a minha futura sogra?
Futura sogra? Nós não estávamos saindo. Está certo que houve algo, mas nada sério. O que ele queria dizer com futura sogra? Fazia menos de uma semana que nós nos conhecíamos!
-Hum.. Jorge?
-Oi, Viviane?
-Então... ela não é a sua futura sogra.
-Como assim? Nós não estamos saindo?
-Bom, não exatamente.
-O que isso quer dizer? Você não gosta de mim? Nós não nos beijamos?
-Tecnicamente, você me beijou. E eu nunca disse nada sobre o que eu sentia e você nunca me perguntou.
-Mas eu me apaixonei por você assim que pus meus olhos em você.
Fiquei em silêncio.
-Você não sentiu o mesmo por mim?
-Não é isso, Jorge. Você está indo rápido demais.
-Como? Eu ainda nem te pedi em namoro!
-Você já estava planejando isso?
-Claro... mas você não quis sair ontem.
-Jorge... não faz nem uma semana!
-E daí? Eu sei que você é o amor da minha vida. Você é exatamente a minha alma gêmea.
Do que ele estava falando? Desde quando aquele cara legal e simpático virou esse cara fantasioso?
-Jorge... calma. Você não me conhece para dizer isso.
-Mas sinto como se conhecesse você a vida inteira.
-Nós nem conversamos tanto assim!
-Eu te amo, Viviane. A cada segundo que passa, eu te amo mais e mais.
Oh, God! No que eu fui me meter?
-Olha, Jorge. Eu tenho que ir agora. Amanhã nós conversamos, ok?
-Claro, amor. Te amo.
-Tchau.
Desliguei o telefone e liguei para o Fernando em seguida.
-Alô?
-Fernando, você precisa me ajudar.
-O que houve?
-É o Jorge.
-Ah.
-Ele disse que me ama.
-Uau. Que rápido!
-Você precisa me ajudar.
-Por quê?
-Se eu deixar isso continuar ele vai me pedir em casamento semana que vem! É muita fantasia para a minha cabeça.
-Sério?
-Sim! Ele está indo muito além dos limites.
-Então conta isso para ele.
-Ele vai ficar arrasado!
-Eu sei, mas é o jeito, certo? Sempre temos algo que nos entristece.
-Eu...vou recusar a promoção.
-O quê? Você é louca?
-Eu não quero trabalhar lá. É chato, tem muita coisa para fazer e terei que conviver com o Jorge. Mil vezes passar o dia com você.
Ele ficou em silêncio.
-Fora que eu sinto um vazio lá no nono andar que eu não sentia na minha antiga sala...
-Ficarei feliz em tê-la de volta.
-Obrigada.
Desliguei o telefone.
No dia seguinte, Jorge veio falar comigo na empresa.
-Viviane.
-Oi, Jorge.
-Me falaram que você recusou a promoção. Por quê?
-Eu gosto mais lá de baixo.
-Mas por quê? Você vai me abandonar? Você não gosta de mim? Por quê? O que eu posso mudar para continuarmos juntos?
-Esse é o problema, Jorge. Nunca houve nós e não haverá nunca. Olha, você é legal e tudo o mais, mas não é quem eu procuro. Você não é o meu tipo de cara.
-Mas posso ser! Só me diga o que preciso fazer.
-Jorge, eu não sou quem acha que sou. Você está iludido e está fantasiando demais.
-Fantasiando? Não estou, não. Eu te amo, Viviane. Você é o meu mundo.
-Não, eu não sou. E esse é o problema. Você é completamente dependente e eu não consigo conviver com alguém assim. Simplesmente não consigo!
-Viviane, não diga isso. Não termine comigo.
-Não estou terminando, Jorge. Nós nunca tivemos nada.
Dei as costas e desci de elevador até a minha antiga sala. Fernando estava me esperando encostado na porta, sorrindo.
E quando vi aquele sorriso, tive a certeza de qual era o vazio que eu sentia.
-Fernando...
-Sim?
-Acho que eu gosto de você.
Seus olhos brilharam e seu rosto se iluminou.
-Você demorou para descobrir.
E então, ele me puxou para perto, e me deu o melhor beijo da minha vida. Ao qual respondi com muito amor.
FIM.

Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

Sejam bem vindos! A leitura dessa letra é difícil, mas eu tenho fé que vocês hão de conseguir!

Resolvi fazer um blog apenas para as minhas criações, meus contos, minhas estórias, meus poemas e quem sabe um dia postarei sobre o meu próprio livro.

Espero que gostem!