Um anjo ao meu lado
Estava voltando para casa, caminhando lentamente, pensando em meus problemas. Não conseguia entender como meus pais brigavam tanto por causa de dinheiro, eu sei que a situação estava difícil, e a mensalidade da minha escola não era nada barata.
Já estava escuro, e eu carregava uma sacola de compras em cada mão. De repente, quando virei a esquina, um homem trombou em mim e puxou uma das sacolas, sacola de comida que comprei com o resto de dinheiro que meus pais tinham.
-Ei! –Reclamei automaticamente.
Ele tirou uma 0.32 e colocou na minha cabeça.
-Ei, o quê? Passa as sacolas e a carteira.
-Não tenho dinheiro, só documentos.
-Mentira! Passa a carteira!
Entreguei as sacolas e a carteira, meu coração afundou de tristeza. Quando ele percebeu que realmente não havia dinheiro, olhou irritado para mim.
-Sua pobre! Se não tem dinheiro, vai ter que pagar com o corpo!
-Não! Deus, por favor, me deixe ir.
Ele jogou as minhas coisas no chão, agarrou o meu cabelo, me jogou contra a parede e começou a abrir o seu zíper.
Meus olhos lacrimejaram, olhei para a Lua, brilhava majestosamente, e seria a única testemunha do horror que me esperava. Silenciosamente, enquanto ele abaixava a minha calça, rezei para a Lua, minha companheira de tantas outras noites, que me protegesse dessa vez também.
Quando esse bruto homem estava quase me violando, a Lua foi encoberta por nuvens e a rua ficou um breu total, todas as luzes se apagaram, e o homem me soltou com um gemido.
Lembro apenas de levantar a minha calça e correr desesperadamente até em casa, e chorar no meu quarto até de madrugada.
No dia seguinte, após contar a história aos meus pais, eles me levaram até a delegacia. Ao chegarmos lá, descobrimos que o assaltante havia sido preso, que uma testemunha chamara a polícia e que o encontraram desmaiado.
Agora, todos os dias eu voltava para casa enquanto ainda estava claro, ou alguém me acompanhava. E meus pais pararam de brigar o tempo todo por causa de dinheiro, eles estavam felizes por nada de muito sério ter acontecido comigo.
Eu estava com medo e traumatizada.
Todos os dias eu encontrava um garoto de uns dezessete anos encostado na parede, na mesma esquina onde fui atacada. Comecei a pensar que ele estava me vigiando, que se vingaria de mim ou que também me atacaria.
Um dia, passei por ali sozinha à noite, uma exceção. Em vez dos passos lentos de outrora, os meus passos eram apressados, urgentes, cautelosos. E a Lua... estava maravilhosa essa noite!
Ao passar pela esquina, com o coração aflito reparei que o garoto admirava a Lua. O seu rosto, já tão conheci por mim, estava angelical, um semblante calmo. Não sei por que naquele momento parei ao seu lado e comentei:
-A Lua é tão linda, não é mesmo?
-A Lua é maravilhosa. –Ele respondeu sorrindo. –Achei que nunca falaria comigo.
-Você estava me esperando? –Perguntei, ficando aflita.
-Não se aflija. Não lhe farei nenhum mal, Rafaela.
-Como sabe o meu nome? –Perguntei espantada.
-Porque te conheço. E a Lua brilhava tão linda como hoje, no dia em que você nasceu.
-Do que você está falando? Quem é você?
Ele sorriu novamente.
-Eu sou o seu anjo da guarda. Fui enviado para cuidar sempre de você.
-Cuidar de mim? Aonde você estava quando fui atacada? –Perguntei irritada.
-Eu estava aqui.
-Mas...
-Eu te salvei.
-Como?
-Eu escureci tudo, eu o apaguei. Fiz tudo aquilo. Eu te dei a oportunidade de fugir, e fui eu quem o denunciou para a polícia.
-Mas por que não o impediu?
-Porque a vida é a vida. Ninguém sabe o futuro, nem você, nem eu. A vida é feita de escolhas, sejam elas boas ou ruins. A escolha dele foi ruim, mas você também fez uma má escolha.
-Qual?
-Você se deixou traumatizar. Nem todos são maus, você pode desconfiar das pessoas, mas não fazer disso uma regra, nem todos querem machucá-la. E se continuar assim, sua vida acabará agora. A sua doce personalidade se transformará em uma personalidade rancorosa e amarga. Você irá parar de aproveitar a vida, de apreciar cada detalhe dela, de ver a beleza das simples coisas que te rodeiam. Você parou para falar comigo hoje, você encarou o seu medo! E mesmo aflita, você sentiu segurança, não sentiu?
-Sim, lá no fundo eu achei que você não me faria mal algum.
-Exatamente. Não se pode viver no medo, Rafaela.
-Obrigada... anjo.
-E por mais que não me veja, estarei sempre aqui com você.
E ele desapareceu. Olhei novamente para a Lua e sorri. De hoje em diante, a minha vida seria completamente diferente!
Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!
2 comentários:
Lii, você captou a essência. Muito bom! Não é fácil se recuperar de um trauma, mas esse anjo está certo, devemos enfrentar nossos medos!
Acho que se você viver no medo, então você não estará vivendo de verdade.
O medo faz parte da vida, assim como a insegurança, a dor, o amor e a felicidade. É a junção de tudo que faz com que sejamos nós mesmos, e é também o que nos faz fortes.
Todos nós temos traumas, alguns piores do que outros, mas por mais que leve algum tempo, precisamos encará-los em algum momento para continuarmos a viver...
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