segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A loja de reparos



Um sininho tocou assim que abri a porta. O sol do final do dia invadiu a loja, a brisa fria bagunçou meu cabelo e as partículas de poeira dançaram pelo ar.
Caminhei até o balcão vazio, toquei uma campainha enferrujada e um estalido agudo ecoou no espaço apertado. Olhei em volta, não havia mais nada além de estantes vazias nas paredes.
Um senhor apareceu pela porta atrás do balcão. Cabelos brancos, olhos cansados.
- Pois não?
- Me indicaram a sua loja, – falei insegura – disseram que poderia me ajudar.
- Faz tempo que não me aparece um cliente. O que você precisa? Conserto? Trocar por um novo?
- Não... na verdade é algo muito mais difícil. Eu quero retirar.
- Esse é um procedimento muito perigoso, moça. Você ainda é muito jovem para pensar nessa opção.
- Por favor, senhor! Dizem que você é o melhor e mais experiente nisso. Eu não aguento mais viver assim. – Lágrimas brotaram dos meus olhos.
- Moça, é arriscado demais. Não tem como refazer se você se arrepender.
- Eu não me arrependerei, por favor. Eu pago o que for necessário.
- Você não quer conversar antes? Talvez desabafar um pouco, pode ajudar.
- Não. Nada mais pode me ajudar. Eu estou tão cansada – soluços acompanharam a torrente de choro.
Ele me olhou por algum tempo, me entregou uma caixa de lenços, retirada de baixo do balcão, e sumiu pela porta. Retornou alguns minutos depois segurando alguns papéis.
- Preciso que assine esses documentos. E o pagamento é adiantado.
Assinei tudo e devolvi para o senhor, assim entreguei o dinheiro.
- Você tem certeza absoluta de que quer retirar para sempre?
- Sim, por favor, retire o meu coração. Não aguento mais me magoar. Trocar e consertar não são mais suficientes. Vejo o mundo cinza e sinto o meu interior sendo devorado pelos meus sentimentos.
Ele levantou a tampa do balcão e disse:
- Então vamos começar. É por aqui.

Passei pela porta tremendo, mas aliviada por parar de sentir, de sofrer.

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