terça-feira, 24 de setembro de 2013

Bu!

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Bu!

Saí do trabalho e logo começou a ventar. O barulho do chacoalhar das folhas e a dança das árvores me deixou inquieta.
Ia chover e eu não possuía um guarda-chuva comigo.
O tom alaranjado do final do dia me fez apressar o passo. Queria chegar logo em casa.
Um brilho riscou o céu.
Pingos caíram gentilmente e depois com grosseria.
Passei a correr.
Já estava quase totalmente escuro quando abri a porta da minha casa.
Pressionei o interruptor da sala, estava sem energia. Deixei a bolsa em cima do balcão e caminhei até o banheiro.
Coloquei meus óculos em cima da pia, me despi da roupa encharcada, enrolei uma toalha no cabelo.
Escutei um barulho vindo da lavanderia. Segui até lá devagar. A janela estava aberta e alguns produtos haviam caído com o vento. Não lembrava de tê-la deixado aberta.
Fechei-a e peguei uma lanterna do armário.
Assim que iluminei o cômodo meu coração gelou.
Havia pegadas partindo da janela até a porta. Pegadas feitas de água e lama.
Senti meu corpo todo tremer. O que eu faço agora?
Apaguei a lanterna e peguei uma vassoura. Voltei para a sala. Minha bolsa não estava mais em cima do balcão.
Entrei na cozinha e alguém tampou minha boca. Me debati violentamente, acertando a parte inferior dele.
Assim que ele se ajoelhou, passei a chutá-lo desesperada.
– Calma! Droga!
– Seu desgraçado!
– Calma, Júlia! Sou eu, o Rafael.
Parei de chutá-lo.
– Rafa? O que diabos você estava tentando fazer?
– Esqueci a chave da porta e pensei em te dar um susto. Foi só isso.
– Você é um namorado idiota. Você quase me matou do coração.
– Eu percebi. –E começou a rir alto.
Sentei ao seu lado e respirei aliviada.

Ainda bem que havia sido apenas uma brincadeira.

Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Reminiscências...

Reminiscências...


Estava cansada de empacotar as coisas para a mudança.
Sentei na minha cama e olhei em volta, tanta bagunça, tanta coisa ainda por fazer. Uma caixa esquecida em cima do armário me chamou a atenção. Estava cheia de pó, mas continuava sendo bonita, com todas as suas flores amarelas e laranjas.
Peguei-a e a coloquei no chão. Me espreguicei e sentei ao lado dela, pronta para descobrir o que havia dentro. Abri sua tampa, e vi inúmeras lembranças esquecidas há anos ali dentro.
Aquela era a minha Caixa de Lembranças. Como pude esquecê-la?
No topo estavam vários origamis que fiz com minhas amigas. Sorri.
Guardei cada um deles, para lembrar dos bons momentos, das risadas, das amizades verdadeiras. Coloquei eles ao lado da tampa, e parti para a próxima lembrança.
Um relógio de bolso, um desejo que sempre quis e ganhei quando adolescente, por obra do destino. Foi a única oportunidade que apareceu de comprar, e minha mãe não hesitou por um segundo. Abri-o, vi que estava parado, havia anos que estava parado. Ele simbolizava tudo o que estava naquela caixa. O passado estava preso ali, e o tempo não passava para aquelas lembranças.
O próximo da fila foi uma carta e um cartão. Antigos romances, que só continuam vivendo naquelas cartas, pois não sobrou mais nada daqueles sentimentos em mim. Reli-os, lembrei de certos momentos, senti o perfume que o cartão ainda carrega. Coloquei-os de lado.
Partes de um caderno contendo um resumo enorme e fiel de um filme que eu adorava. Trabalho de escola. Nunca tive coragem de jogar fora. Li-o do começo ao fim, e consegui rever cada parte do filme na minha memória. Fazia muito tempo que eu não lembrava da existência desse filme. Ri da minha letra e do jeito que eu já gostava tanto de escrever.
Encontrei momentos de cumplicidade escritos em apostilas da escola, declarações de amor, rabiscos, desenhos, cartões de aniversário.
Também encontrei lembranças de pessoas que um dia amei, e hoje desprezo.
E lá no final da caixa, escondido e amassado, um avião de papel.
Está escrito o nome de quem fez, o ano, e uma palavra de amor. Tudo com a minha letra.
Minha memória falha, e não encontra a recordação da cena em que eu peguei esse avião.
Provavelmente esperei todo mundo sair da sala de aula para poder pegar sem ser vista.
Por quê?
Porque foi o menino de quem eu gostava que fez.
Quão patético isso é?
Guardar por anos, algo que um dia foi importante para mim, e somente para mim.
Apesar de ter sido rejeitada, eu ainda o guardei.
Olho para o avião de papel, e sorrio com carinho da garota que fui.
Apaixonada, ingênua, boba. Também lembro de ter sido cruel.
A vida passa. O tempo passa, as coisas ficam para trás. Não podemos voltar no tempo.
O importante é o hoje. O agora.
Ele é quem importa. O que eu posso fazer hoje para me deixar feliz? Para fazer as pessoas que eu amo felizes?
Foi naquele dia, que um simples aviãozinho de papel me ensinou algo importante.
Guardei várias coisas de volta na caixa, e outras joguei fora. Coloquei a caixa no mesmo lugar de antes.
Liguei para o meu namorado, fui aproveitar o agora.


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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Diário da Verônica #4

Dia 14 de abril

Estava me lembrando da viagem que fizemos recentemente. Fazia tanto tempo que não nos víamos que meu coração já estava cansado de chorar pela sua falta.
Foram apenas dois dias, mas dois dias que passei transbordando de felicidade. Cheguei lá de noite, e você no começo da madrugada, e mesmo assim, você enfrentou o frio para ir aquecer meu coração.
No dia seguinte, um beijo de bom dia na porta do meu quarto de hotel, e à tarde um almoço delicioso, acompanhado de um bom sorvete.
Às vezes estou tão feliz ao seu lado que me pergunto se estou sonhando. Após muita conversa, você adormeceu, estava cansado. Por um tempo, fiquei ao seu lado, velando seu sono, até que me aninhei em você e sonhei doces sonhos.
Ah, como aquela viagem teve cheiro de verão e gosto de amor!

Vicky

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Encontro do Passado

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Encontro do Passado

Eu o vi de longe. Estava de mãos dadas com uma japonesa incrivelmente linda. Sua pele alva contrastava com seu cabelo negro e liso. Ela era bem menor que ele, delicada como eu sempre quis ser. Estavam de mãos dadas, conversando felizes.
Era o que eu queria para mim. Estar lá no lugar dela, com o meu amor na minha frente. Mas ele não era mais meu, era dela.
De tantos lugares, por que eles estavam justo aqui, droga?!
Eles se viraram quando eu chegava perto, e nossos olhos se encontraram.
A chuva escorria pelos meus cabelos. Ele olhava fundo nos meus olhos.
-Eu te amo. Sei que você tem problemas para confiar nas pessoas, mas eu estou dizendo a verdade. Eu te amo, e sempre irei te amar.
-Vitor... eu...
O sorriso radiante dele me fazia esquecer do resto do mundo, eu só queria estar ali, com ele.
-Laura? Tudo bem?
-Tudo sim, desculpa, eu me perdi no que eu estava pensando antes.
-Quanto tempo, não é?
-É sim.
Nós estávamos deitados na grama, estava frio. Olhávamos as estrelas.
-E aquela é a Ursa Maior. - Ele apontou para o céu.
-Uau! - Rolei para o lado e encostei no corpo quente dele. -Você é cheio de surpresas.
-Você ainda não viu nem metade. -E me puxou para um beijo molhado.
-Essa é a Keiko.
-Prazer, Laura.
-Olá.
-Faz tempo que vocês estão juntos? -Forcei um sorriso amigável.
Lágrimas escorriam aos borbotões.
-Laura, não dá mais para mim. Eu não consigo viver assim, nós dois estamos infelizes! E não consigo ver outra saída.
-Você disse que me amava, que sempre me amaria! Você é um mentiroso! -Joguei um sapato de salto alto nele.
-Laura, deixa de ser louca! Para com isso!
-Você disse que me amava. -Choraminguei.
Ele me olhou com pena.
-Faz uns três meses.
-Que legal! Felicidade para vocês.
-Obrigada. -Ela sorriu. Era um sorriso sincero. Por que eu não conseguia ser assim?
-Keiko, por que você não vai na frente e depois eu te alcanço?
-Ok, Vitor. Tchau, Laura.
-Tchau.
Eles se despediram com um beijinho. Que deveria ser meu.
-Laura, você está bem? É a primeira vez que nos encontramos depois de...
-Sei que nós não terminamos de um jeito muito agradável, mas estou... bem. E você?
-Estou muito feliz.
-Você a ama?
-Amo.
Ficamos quietos.
-Laura... Eu gostaria de ser seu amigo novamente.
-Não dá, Vitor.
-Olha, nós não podemos deixar o passado para lá?
-Não, eu te amo. Se for para ser a sua amiga novamente, eu vou te querer. E você tem a Keiko. Agora ainda sei que devo ficar longe, mas se nós nos aproximarmos, eu... eu ainda te amo, Vitor. E isso dói!
-Eu sinto muito que você ainda se sinta assim...
-Vamos... fingir que esse encontro nunca aconteceu, ok? Será melhor para todos nós.
-Se é assim que você quer...
Eu o abracei forte, foi o abraço que não tive quando nós dissemos adeus da primeira vez. Lágrimas queriam escorrer, mas eu as segurei forte. Eu possuía o mundo nos meus braços, e o estava deixando ir.
-Adeus, Vitor.
-Adeus, Laura.
Ele me deixou lá e foi atrás da namorada. Eu fiquei para trás, abandonada, solitária, sentindo o vento balançar meus cabelo com carinho.
Acho que é hora de seguir em frente... O que passou, passou...
Olhei sua silhueta ao longe, e me permiti chorar por ele uma última vez. Agora era a minha vez de ser feliz.


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