Amor de Mãe
-Ju, minha amiga, eu te imploro!
-Não, eu não vou embora!
-Olha o seu estado, mulher! Vê o que aquele desgraçado fez
com você!
-Ele não fez de propósito, Rita... Ele só ta mais estressado
ultimamente.
Juliana olhou o relógio.
-Rita, o Manuel já vai chegar. Você sabe que ele não gosta
de ninguém aqui em casa.
-Ju, você sabe que ele não vai chegar logo. Ele vai pro bar,
ficar bêbado e vir te espancar depois.
-Não é verdade! Faz favor, Rita, vai embora.
-Você só vai fazer algo quando ele quase te matar? Ou quando
o Yudi apanhar do pai? Tá bom, to indo.
Rita foi embora triste, enquanto Juliana foi chamar Yudi na
vizinha. O menino foi tomar banho; a mãe, a janta.
Os dois se sentaram à mesa, com a mesa posta e a comida
pronta. Esperaram.
Esperaram por quase três horas até Manuel chegar batendo a
porta.
-Mulher! Cadê você?
Juliana correu até a sala. O cheiro do álcool era evidente.
-O que você aprontou hoje? Eu sei que a biscate da Rita tava
aqui falando bobagem.
-Não, meu amor. Ela veio, mas eu pedi para ela ir embora.
-Pediu? Tem que
expulsar aquela vaca daqui! Por que você não fez isso, hein? – Ele agarrou o
cabelo dela e a jogou no chão.
-Ai! Por favor, não, eu não vou fazer de novo.
-É o que você sempre fala, sua vadia. – Chutou a barriga da
esposa.
-Não, querido, eu prometo, não vou mais fazer. – Começou a
chorar.
-Para de chorar, desgraçada. Eu faço tudo por vocês!
-Por favor... – Ela implorou.
-Eu que aguento aquele maldito do meu chefe. – A cada frase,
um chute em Juliana. – Aguento aquele trabalho de fracassado. Tudo porque você
ficou grávida daquele seu filho retardado. Você destruiu a minha vida!
O filho de cinco anos presenciou a cena, e começou a chorar.
-Para, moleque.
-Yudi, tá tudo bem, filho. A mamãe tá bem.
-Cala a boca, desgraçada. – Puxou o cabelo e bateu a cabeça
dela no chão. Yudi continuou a chorar. Juliana desmaiou.
-Mamãe...
O pai avançou no filho e o socou. Como o choro continuou,
ele pegou o menino, o jogou na parede e depois o chutou. Quando a casa
finalmente silenciou, ele foi dormir.
Juliana acordou no meio da madrugada. Seu filho estava
deitado em posição fetal, imóvel.
-Yudi, não, não! – Ela se arrastou até ele. – Filho?
Querido? Tá tudo bem?
-Ma-mãe.
Ela o envolveu nos seus braços e o embalou, chorando.
Quando o menino dormiu, ela o colocou no sofá, e andou
silenciosamente até o quarto para se certificar de que Manuel estava dormindo.
Ligou para Rita; ela já estava vindo.
Juliana esperou na porta por cinco minutos até a chegada da
amiga.
-O que aconteceu, Juliana? Meu Deus, o que te aconteceu?
-Você pode levar o Yudi para a sua casa?
-Posso. – Ela entrou e levou um choque com o estado do
menino. – Pobrezinho...
-Toma, cobre ele com esse cobertor.
Rita o enrolou, e o pegou no colo.
-O que você vai fazer, Juliana?
-Eu vou terminar com isso. – Falou determinada.
-O seu filho teve que apanhar para você denunciar o canalha
do Manuel. É um cúmulo! Como você pôde suportar apanhar durante quase seis
anos?
-Vai embora, Rita. Faz favor.
-Ok, eu cuido do Yudi até você ir pegar ele.
-Obrigada. Diga que eu amo ele.
-Eu digo.
Rita foi embora; Juliana vagou pela casa perdida. Após algum
tempo, subiu para o quarto. Se aproximou do marido sorrindo.
-Manuel... – Sussurrou.
Ele se remexeu na cama e abriu os olhos.
-O que foi? – Perguntou ríspido.
-Durma bem. – Seus olhos tinham um brilho de loucura.
Ela o esfaqueou múltiplas vezes no pescoço, no tórax e no
rosto.
Juliana foi encontrada na manhã seguinte por Rita. Ela
estava deitada ao lado do marido, dormindo, como se fosse comum. Quando a polícia
chegou, ela não fazia ideia do que havia acontecido com o seu marido ou com o filho.
A última coisa da qual lembrava, era estar sentada à mesa com o filho,
esperando o marido chegar.
Ela acabou em um hospício.
Sempre perguntava sobre Manuel e Yudi, apesar de terem
contado inúmeras vezes, ela continuava negando que havia matado seu amado.
Yudi nunca mais viu a mãe. As feridas físicas se curaram. As
psicológicas, não.
Se copiar a estória, não esqueça de citar a autora (Lívia)!